É preciso entender que tudo começa muito antes do filho entrar na escola. Começa quando nos colocamos para conversar com a criança e explicar tudo o que acontece ao redor dele, o que está passando na TV, os livros de história desde muito bebê, por exemplo, participando de todos os acontecimentos da família e explicando de forma que ele possa compreender. Preste atenção! “Explicando de forma que ele possa compreender” significa que se ele é oralizado você precisa se certificar de que ele está olhando pra você, porque ele continua no processo de aprender a ouvir, então não adianta ficar falando se ele está virado, ele não conseguirá participar de forma efetiva do que você está falando. Não precisa gritar, mas é importante falar de frente para ele e auxiliar mostrando sobre o que você fala.
Caso a criança não tenha adquirido a oralidade, não tem problema!!! Língua de sinais é tão completa quanto a fala e podemos conversar com a criança sobre qualquer situação também usando a Libras o tempo todo e a criança só saberá do que acontece se ela puder ver as pessoas ao redor dela conversando nessa língua. Então, desde muito pequena é possível ir facilitando o contato com o português escrito mostrando na rua o que está escrito e o que significa, mostrando coisas dentro de casa, chamando a atenção da criança para o português e não tem idade pra fazer isso, pois a criança pode participar desde sempre para que ela já tenha familiaridade quando chegar na escola.
É muito bom e importante contar histórias, mostrar livros de história usando Libras chamando a atenção para as gravuras, para os acontecimentos e indicando a escrita pra criança ver, brincar de desenhar, de escrever e de desenhar o sinal das coisas, colocar ela pra ser professor/a de Libras, por exemplo; sugerir que ela escreva bilhetes, que escreva cartinhas, que procure no livro a parte que gosta, que conte pra outra pessoa algo que está no livro, enfim, diferentes situações são possíveis no dia a dia e que normalmente fazemos com nossos filhos, mas se o filho é surdo, precisamos reaprender como fazer e o significado disso.
E se as crianças já estão na escola e mesmo assim ainda não usam o português? Bem, precisamos ressignificar a ela essa outra língua incentivando que escreva e leia, mas não apenas um livro ou algo formal da escola. Normalmente para as pessoas surdas é um peso aprender português, porque ao contrário do que acontece com os ouvintes que podem escolher se querem ou não aprender inglês, por exemplo, o português é obrigatório e é visto como algo muito distante. Devemos ter em mente que português pra criança surda é a língua do outro, não é dela mesma. Assim, quando falamos em ressignificar implica dizer que precisamos mostrar que ela pode ser eficiente, incentivando os pequenos ganhos e colocando pra fazer pequenas tarefas (explicando em Libras sempre!) do tipo lista de compras (Filho/a, me ajuda, pois estou com a mão molhada, escreve que precisa comprar arroz), depois leva ao mercado e a criança vai com a lista de compras vendo o que precisa comprar e avisando a mãe e o pai do que está anotado. Ela se sentirá capaz e valorizada.
Fazer momentos de contação de histórias em que cada um conta uma história diferente ou que cada pessoa conta um pedaço da história, jogos tipo jogo da forca, adedonha (é o mesmo que o jogo “Stop” ou “Salada de frutas” em outros lugares. Se selecionam classes como Nomes, Objetos, Frutas, etc e cada pessoa diz uma letra à sua vez e todos devem escrever uma palavra começada com essa letra em cada uma das categorias elegidas. Quem termina primeiro avisa a todos. Depois se conta os pontos.), bico de pato (dobradura de papel com diferentes pistas, dicas ou tarefas a serem cumpridas), pistas espalhadas pela casa como um “Caça ao Tesouro” etc., pedir para o filho/a procurar algo na internet, exemplo: "Procura bolo de chocolate pra mim. Como fazer? Você me ajuda?”.
Claro que cada criança é diferente e gosta de coisas diferentes e ainda, que muitos dos nossos meninos e meninas de hoje estão cansados de ser colocados para aprender português e se sentem frustrados e evitam usar, então quanto mais oferecermos a escrita sem deixar claro a intenção com o português e pra isso as brincadeiras auxiliam muito, mais fácil será para a criança se aproximar da língua escrita sem se dar conta.
Essencial é acreditar que a criança pode e consegue. Além disso, entender que nós, família, temos papel muito importante nesta construção, depois vem a escola.