Alguns surdos podem desenvolver problemas psiquiátricos, então como prevenir no caso das crianças e como ajudar os maiores que já tem o problema?

Bem, essa pergunta é muito importante e normalmente as pessoas não se dão conta que isso existe.

 

Desenvolver problemas psiquiátricos não é algo tão falado no meio, mas talvez seja mais comum do que se imagina contudo, lembremos que perda auditiva não causa outros problemas nem mentais, nem emocionais, mas a condição em que a pessoa que não escuta é colocada sim, pode trazer dificuldades e levar a estas outras condições. Pensemos sobre o quanto é importante tratarmos da questão da linguagem/língua da criança surda....

 

Pois bem, o que ocorre é que a privação de contato com as demais pessoas e com as coisas ao redor pode levar ao desenvolvimento de doenças mentais. Isso significa que casos em que o surdo fica isolado, que não tem com quem conversar, em que interagem pouco com a pessoa surda, que não a inserem na rotina doméstica ou da comunidade, podem levar ao estado de sofrimento emocional e a problemas mentais de diferentes intensidades a depender de cada pessoa. Pensemos o quanto pode ser difícil não ter como pedir a comida que quer comer ou mesmo dizer, “eu não gosto do feijão em cima do arroz”. Pode parecer besteira, mas normalmente não se pergunta o que a criança surda quer, não se explica o que vai fazer, onde vai ou o que vai encontrar e é preciso  pensarmos no que isso significa na individualidade da pessoa e no respeito à diferença de cada um, pois sem esse cuidado tudo passa a tomar forma negativa mesmo. É muito comum, especialmente quando adolescentes, refletirmos sobre a vida, sobre nós mesmos e muitas vezes isso pode provocar movimentos de rebeldia que fazem parte da fase e permitem o amadurecimento do jovem, pois bem, se essa pessoa não tem como expressar seus sentimentos, suas dores, suas dúvidas, suas angústias, as vezes pode fechar-se e sofrer sem ter como explicar e assim, ter um sofrimento mental. A solução seria então, o surdo colocar um aparelho auditivo ou o implante coclear e aprender a falar.... infelizmente a solução pode também não ser esta porque precisamos lembrar que nem todo surdo se adapta bem ao aparelho auditivo ou implante coclear e ainda, nem todo surdo que consegue fazer uso destes dispositivos para ouvir, consegue desenvolver a linguagem oral e conversar. Quer dizer, o isolamento pode continuar mesmo assim e ainda acrescentando a sensação de fracasso que as vezes pode somar-se por não alcançar o que os demais esperam dele. É necessário entender que surdo apenas não ouve e sendo assim, é preciso comunicar de forma que ele entenda e também devemos demonstrar interesse por entendê-lo, prestando atenção no que tem a dizer, explicando o que passa na TV, deixando-o participar de todas as coisas e diálogos, mesmo que custe trabalho.... mas é importante! Um detalhe importante é lembrar que cada pessoa é diferente da outra e pode reagir de forma diferente também. Não existe um “molde” de como agir, o que deve sempre existir é o respeito e o entendimento pela sua forma diferente de ser e estar no mundo.

 

Com relação aos jovens surdos que já tem o problema, é relevante procurar ajuda especializada, com um psicólogo bilíngue e ele poderá nos ajudar a pensar se é o caso de procurar um médico psiquiatra, por exemplo, e quem sabe, usar medicação orientada sempre pelo médico. Consideremos o quanto pode ser difícil à criança crescer com a sensação de ser diferente, de estar deslocado, de não se encaixar no modelo que é a sua própria família. Como identificar-se se o olhar normalmente dado é de estranhamento; e isso não é culpa de ninguém, é difícil mesmo, contudo, temos que nos esforçar por refletirmos a necessidade de entendermos nossas crianças como elas são e não como gostaríamos que fossem.